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Entre o básico e o premium: a economia da personalização

Por Fernanda Melo, Especialista de produtos de investimentos no Itaú Unibanco.

19 set 2025

Há dois anos estive em Chicago e fui a um Costco pela primeira vez. Tinha ouvido falar que era uma experiência obrigatória para entender o estilo de vida de um americano médio, mas confesso que saí de lá intrigada. Tudo era enorme, ao estilo americano. Apesar de o conceito de supermercado “atacado” não ser novidade por aqui, algo me chamou a atenção: os membros executivos. Clientes que, por uma anuidade maior, tinham acesso a horários especiais, cashback e outras vantagens. Era como se, dentro daquele templo do consumo em massa, existisse uma sala VIP invisível.

Quando já estava no voo de volta, sentada em um assento da classe econômica, percebi como esse tipo de estratificação está por toda parte. Não só em companhias aéreas ou clubes de compras. A estratificação virou a lógica predominante de consumo: do streaming ao varejo, das entregas às experiências de lazer. Tudo agora vem em camadas. E entender essa dinâmica não é apenas uma questão de curiosidade sociológica. É um insight valioso para quem investe.

Estratificação, aqui, significa a divisão deliberada dos consumidores em diferentes níveis de acesso, com base na disposição (e capacidade) de pagar por mais conforto, conveniência ou exclusividade. Trata-se de oferecer uma versão básica de um serviço, geralmente com qualidade limitada, e ir adicionando camadas pagas de melhorias. Essa abordagem permite às empresas maximizar a receita por cliente, ao mesmo tempo em que criam uma sensação de prestígio para quem consome as opções premium.

A lógica é simples: ao fragmentar produtos e serviços em múltiplos níveis, as empresas conseguem capturar diferentes disposições a pagar dentro da mesma base de clientes. Essa prática tem nome: discriminação perfeita de preços. E sua eficácia se tornou exponencial com o uso de dados, algoritmos e programas de fidelidade. Se uma plataforma sabe qual sapato você quer, também pode saber quanto está disposto a pagar por ele.

Para o investidor brasileiro que busca diversificação global, entender essa dinâmica é fundamental. Empresas que dominam a arte de precificar com precisão cirúrgica podem ampliar margens sem elevar custos. Veja o caso da própria Costco, rede americana com mais de 133 milhões de membros. Além da anuidade básica, ela oferece um plano executivo com acesso a horários exclusivos e outros mimos. Resultado: receita recorrente, maior ticket médio e fidelização em um mercado altamente competitivo.

O mesmo se vê em plataformas como Spotify, Netflix e Amazon Prime, que testam constantemente novos níveis de serviço: com ou sem anúncios, entrega expressa, catálogos exclusivos. Tudo segmentado, tudo mensurado. Em alguns casos, há valor agregado real. Em outros, apenas a percepção de exclusividade. Mas o impacto no modelo de receita é palpável.

Entretanto, nem toda “premiunização” é virtuosa. Quando empresas abusam da estratificação para penalizar a experiência básica, correm o risco de alienar clientes e atrair regulação. A linha entre personalização e oportunismo pode ser tênue. Cabe ao investidor observar como as empresas equilibram essas forças.

Esse movimento também reflete uma mudança mais ampla: da precificação baseada em custos para a precificação baseada em valor percebido. Num mundo com excesso de informação e escassez de tempo, consumidores valorizam conveniência, status e eficiência. E estão dispostos a pagar por isso.

Fernanda Melo

Especialista de produtos de investimentos no Itaú Unibanco

Para quem investe em empresas globais, a pergunta é: quais modelos sabem extrair valor real dessa tendência sem comprometer sua reputação? Quais marcas transformam dados em serviços melhores, e não apenas em etiquetas de preço infladas?

No fim, a premiunização não é apenas uma moda. É uma resposta à busca por margens maiores em um ambiente competitivo. Mas, como todo diferencial competitivo, ela exige finesse. O investidor atento deve olhar além da camada brilhante do serviço premium e entender a estrutura que o sustenta. Porque, no mercado global, valor de verdade é aquele que resiste ao tempo e à superficialidade das tendências.

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Fernanda Peres de Melo, CFP®

Economista com uma carreira construída na interseção entre investimentos e comunicação. Buscando traduzir a complexidade financeira para o dia a dia das pessoas, Fernanda carrega mais de 10 anos de experiência no mercado financeiro, e atualmente ocupa a posição de especialista de produtos de investimentos no Itaú Unibanco.

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