Por Rodrigo Aloi, Head de Strategy and Research na HMC Capital
22 set 2025
Os números mais recentes de payroll nos Estados Unidos trouxeram um certo desconforto ao mercado. A revisão para baixo nos dados de emprego reforçou a leitura de que o mercado de trabalho americano pode estar esfriando mais rapidamente do que se imaginava. Para muitos, isso soou como um alerta: afinal, não é o emprego a engrenagem mais importante da economia?
É verdade que há sinais de desaceleração na margem. Mas ainda existe uma defasagem até que isso se traduza em impacto real no consumo – e é justamente aí que está a diferença. O consumo, que responde por quase 70% do PIB americano, segue mostrando resiliência. Vendas no varejo continuam firmes, o PCE permanece consistente e outros indicadores apontam que a disposição do consumidor americano de gastar não foi, até agora, comprometida de forma significativa.
Em outras palavras, a economia dos EUA dá sinais de perda de fôlego, mas não de fragilidade. É mais uma desaceleração controlada do que uma ruptura.
Diante desse pano de fundo, a pergunta é inevitável: como se posicionar?
Howard Marks gosta de lembrar que todo investidor deveria manter uma “posição neutra em risco”. Essa ideia, quando traduzida para a prática, significa não acelerar demais nem pisar forte no freio. Em momentos de maior clareza, pode-se aumentar o risco. Em momentos de maior incerteza, pode-se reduzir. Mas o ponto de partida sempre deve ser o equilíbrio.
Eu particularmente gosto de pensar em ações, crédito e money markets como partes do mesmo espectro, mas com perfis de risco gradualmente distintos. De um lado, as ações, com maior risco e potencial de retorno. Do outro, os money markets, oferecendo segurança e liquidez, mas com rendimentos limitados. No meio, o crédito – que combina a exposição às empresas com a previsibilidade de fluxos contratuais (tudo mais constante o investidor ganha de volta o principal + juros, sem a necessidade de depender da avaliação dos outros investidores e de ganhos de capital materiais).
É justamente aí que a classe encontra seu espaço hoje: em um cenário de desaceleração, mas sem recessão à vista, o crédito aparece como a alternativa mais lógica. E mais: aparece em um momento em que os yields estão em patamares historicamente elevados, algo raro de se ver.
Isso não significa virar as costas para o mercado acionário. Mas convém olhar com calma para dois pontos centrais.
O primeiro é o valuation. Desde 1990, o histórico do S&P 500 mostra uma relação clara: quanto mais alto o P/E, mais modestos os retornos subsequentes. Quando o índice esteve com P/E abaixo de 15, os retornos anualizados de 10 anos superaram os 11%. Entre 15 e 20, caíram para 7,7%. Já acima de 20, mal chegaram a 0,4%. Hoje, com o P/E orbitando a casa de 24, o investidor deve estar consciente de que os números sugerem retornos prospectivos mais magros.
O segundo ponto é relativo ao crédito. O earnings yield da bolsa está hoje abaixo do yield to worst do mercado de crédito global. Isso quer dizer que, para o acionista, grande parte do retorno futuro dependerá da expansão dos múltiplos – pagar cada vez mais caro pelo mesmo dólar de lucro – e não tanto do fluxo natural de lucros e dividendos. É uma aposta que pode funcionar, especialmente num momento em que grandes empresas de tecnologia entregam resultados robustos, mas que adiciona risco implícito à equação.
Enquanto isso, o mercado de crédito mostra números que transmitem confiança. As empresas estão menos alavancadas, com indicadores de saúde financeira mais sólidos do que em outros ciclos.
Em outras palavras: balanços mais controlados, capacidade de pagamento preservada e níveis de default próximos das mínimas em mais de duas décadas.
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Abrir contaSe há um indicador que merece atenção no crédito, é o yield de entrada. Ele sempre foi um dos melhores preditores de retorno em janelas de cinco anos. A correlação histórica chega a 70%, o que significa que o ponto de partida é quase sempre determinante.
Isso vale tanto em momentos de spreads apertados quanto em momentos de estresse. Em dezembro de 2004, por exemplo, com spreads em mínimas históricas, o yield de 7% entregou retorno de 6,2% nos cinco anos seguintes. Já em novembro de 2008, no auge da crise, os yields chegaram a 20% — e os cinco anos subsequentes renderam 19% ao ano.
O crédito global continua sendo uma peça central na busca por equilíbrio em carteiras diversificadas. É mais previsível do que ações, mais rentável do que money markets e, no momento, sustentado por fundamentos corporativos sólidos.
Ninguém está sugerindo que o asset allocation deva ser composto apenas de crédito. Mas talvez o investidor de hoje precise refletir: se a última década foi marcada por retornos fáceis nas bolsas e juros baixos que empurraram o crédito para segundo plano, será que agora não é a hora de reequilibrar essa balança?
O cenário atual sugere que o crédito deve ocupar um espaço maior hoje do que ocupou na última década. Com yields historicamente elevados, balanços saudáveis e inadimplência sob controle, a classe se apresenta não apenas como uma alternativa, mas como uma oportunidade. Cabe a cada investidor olhar para sua própria carteira e se perguntar: quanto espaço estou dando para o crédito neste novo ciclo?
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