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Você é seu maior inimigo: o comportamento que constrói (ou destrói) patrimônio

Por Juliana Benvenuto, Coordenadora de Treinamento e Conteúdo da Avenue

21 jul 2025

Março de 2020 foi um daqueles momentos que escancaram a força do comportamento nos investimentos. A pandemia tinha acabado de explodir, o mundo estava parando, e a queda nas bolsas era tão relevante que parecia não ter fim. Os circuit breakers se repetiam constantemente, interrompendo os pregões em meio ao caos. Na época eu trabalhava numa corretora brasileira e lembro claramente de ver clientes desesperados querendo vender tudo. “O mundo vai acabar”, alguns diziam. E, no fundo, era esse mesmo o sentimento que pairava no ar.

Ninguém sabia o que viria a seguir. E, quando a incerteza é total, o medo toma conta. É nesses momentos que o investidor revela sua real estratégia. Não aquela do plano traçado em dias tranquilos, mas a que surge no susto, na queda livre, na hora de decidir entre segurar ou sair correndo. Curiosamente, é também nesses momentos que surgem as maiores oportunidades.

Nos meses que se seguiram àquela queda, o mercado americano deu uma resposta surpreendente. O S&P 500, que havia despencado mais de 30% em poucas semanas, terminou o ano em alta. Empresas de tecnologia dispararam. Quem teve sangue frio, e um mínimo de convicção, viu seu patrimônio crescer em meio ao caos.

Mas a maioria não agiu assim. E não é por falta de informação. É por causa de um viés tão humano quanto inevitável: o medo de perder.

A lógica se desfaz quando o emocional assume o volante

Daniel Kahneman, psicólogo e ganhador do Prêmio Nobel de Economia, nos mostrou que o ser humano não é tão racional quanto gostamos de acreditar. Em seu livro Rápido e Devagar: Duas Formas de Pensar, ele explica que nosso cérebro funciona em dois sistemas: um rápido, emocional, intuitivo; e outro lento, analítico, lógico. Na prática, quando o mercado despenca, é o sistema rápido que assume, e ele quer apenas se proteger.

Esse impulso de autopreservação nos leva a decisões que, racionalmente, sabemos ser ruins. Mas, sob pressão, o emocional fala mais alto. É o que explica por que tantos investidores vendem em momentos de pânico e voltam a comprar depois que o mercado já se recuperou.

Esse impulso de autopreservação nos leva a decisões que, racionalmente, sabemos ser ruins. Mas, sob pressão, o emocional fala mais alto. É o que explica por que tantos investidores vendem em momentos de pânico e voltam a comprar depois que o mercado já se recuperou.

Juliana Benvenuto

Coordenadora de Treinamento e Conteúdo da Avenue

Peter Lynch, lendário gestor do fundo Magellan da Fidelity, costumava dizer que “o maior inimigo do investidor é ele mesmo”. E os números mostram que ele tinha razão.

Um estudo da Dalbar Inc., que analisa o comportamento dos investidores americanos, mostrou que, em prazos de 1, 3, 5, 10, 20 e 30 anos encerrados em 2022, o retorno médio do investidor em fundos de ações foi significativamente inferior ao retorno médio dos respectivos índices. Ou seja: o investidor erra o tempo de entrada e saída com frequência.

O preço de sair cedo demais (ou de entrar tarde demais)

Imagine um investidor que aplicou US$ 10 mil no S&P 500 em janeiro de 2004 e simplesmente manteve esse dinheiro investido até o fim de 2023. Ele não fez nada extraordinário, não tentou adivinhar o melhor momento de entrada ou saída, não operou na emoção. Só ficou investido. O resultado? Ao fim desses 20 anos, ele teria acumulado cerca de US$ 65.000, com um retorno anualizado de 9,8%.

Agora, imagine que esse mesmo investidor perdeu apenas os 10 melhores dias do mercado nesse período. Dez dias em vinte anos. Sabe o que acontece com o patrimônio? Ele cairia para US$ 29.000, com um retorno de 5,6% ao ano. E se tivesse perdido os 20 melhores dias? O valor final despencaria para US$ 17.000, com um retorno de apenas 2,5% ao ano.

Esses dados são de um estudo publicado pela JP Morgan Asset Management. E o mais impressionante é que, segundo o mesmo estudo, muitos dos melhores dias de alta acontecem logo após grandes quedas, exatamente quando o investidor comum está mais propenso a sair do mercado.

Esse padrão se repete ao longo da história. Durante a crise de 2008, quando o sistema financeiro global parecia colapsar, o S&P 500 caiu mais de 38% no ano. O Ibovespa, mais de 40%. Foi um dos momentos mais traumáticos do mercado recente. E, mesmo assim, quem conseguiu manter sua estratégia, ou teve coragem para comprar na baixa, viu seu patrimônio se multiplicar nos anos seguintes.

O mesmo aconteceu em 2015, durante a crise política e fiscal no Brasil. E, claro, em 2020, no auge da pandemia. O mercado despencou em questão de semanas, o medo era absoluto, e ainda assim a recuperação veio: rápida, intensa e liderada por empresas que transformaram nosso modo de viver e trabalhar.

Mais recentemente, em 2023, vimos um novo movimento de alta, puxado por empresas ligadas à inteligência artificial. O chamado rally das empresas de tecnologia resgatou parte do otimismo dos investidores, e mais uma vez, quem ficou de fora do mercado por medo ou por timing errado perdeu parte relevante da valorização.

O comportamento se repete. As crises mudam

Esses ciclos sempre voltam. O que muda é o tema do momento. O que se repete é o comportamento do investidor. E entender isso, de verdade, é uma das maiores vantagens competitivas que alguém pode ter.

Desde que comecei a trabalhar no mercado financeiro, uma das coisas que mais me impressionam é o quanto os comportamentos são cíclicos, mesmo quando os cenários são diferentes.

Em 2015, no Brasil, vivíamos uma crise política e econômica. A bolsa derretia, o dólar subia, e o pessimismo tomava conta. Vi investidores se desfazendo de suas posições a qualquer custo. Muitos voltaram a investir em 2017, quando o Ibovespa já tinha recuperado boa parte das perdas.

Em 2020, o pânico foi global. Em 2022, foi a vez do medo dos juros. Agora, em 2024 e 2025, o mercado continua vivendo incertezas: disputas geopolíticas, eleições, guerras tarifárias, tensões fiscais no Brasil, reprecificação de ativos globais. E, mais uma vez, o padrão se repete: a euforia atrai, a queda assusta. Warren Buffett já dizia: “O mercado é um dispositivo para transferir dinheiro dos impacientes para os pacientes.” E isso vale ouro.

Diversificar é resguardar não só o seu patrimônio, mas o seu psicológico

É aqui que entra um ponto que sempre tento reforçar com quem me ouve ou me lê: investir fora do Brasil, em moeda forte, com ativos globais, não é apenas uma estratégia financeira. É uma estratégia comportamental.

A diversificação geográfica ajuda a reduzir o estresse. Quando o Brasil passa por turbulência, parte da carteira protegida em dólar oferece equilíbrio. E o contrário também é verdadeiro. Ao reduzir a concentração e diluir o risco, o investidor ganha confiança para manter a estratégia, mesmo quando o mercado balança. Mais do que isso: o simples fato de ver seu portfólio composto por ativos em diferentes países e setores reforça a mentalidade de longo prazo. Te tira do noticiário de curto prazo e te aproxima de uma postura de construção patrimonial.

Quantas vezes você já viu (ou fez) uma simulação de rentabilidade em uma planilha e pensou: “É só deixar lá e esquecer”? Na prática, esse “esquecer” exige convicção, educação e uma boa dose de autoconhecimento.

Howard Marks, da Oaktree Capital, um dos gestores mais respeitados do mundo, já dizia que “o maior risco não é o que o mercado faz, mas como você reage a ele.”

Mais do que investimentos

Essa coluna nasce com a intenção de provocar essa e outras reflexões. Ao longo dos próximos textos, quero falar sobre comportamento, sim, mas também sobre diversificação, planejamento financeiro, investimentos, proteção patrimonial, construção de futuro e propósito.

A ideia não é ficar presa ao noticiário do dia, nem dizer onde você deve ou não investir. É ir além. É ajudar você a enxergar o mercado com mais clareza, e a si mesmo com mais honestidade. É abrir espaço para conversas que mostram como o dinheiro, quando bem direcionado, pode ser uma ferramenta de autonomia, visão e tranquilidade. Porque crises vão continuar acontecendo. Haverá outras quedas, outras manchetes alarmantes, outros momentos de incerteza. Mas você pode decidir, desde já, como vai se comportar quando isso acontecer. Não se trata de acertar o melhor momento, nem de prever o futuro. Mas sim de resistir ao impulso de sabotar a si mesmo.

Investir é sobre você. Sobre suas escolhas, seus medos, suas metas e o que você quer construir ao longo do tempo. Se tem algo que aprendi ao longo da minha trajetória é que, por trás de cada carteira de investimentos, existe uma história. E histórias boas são aquelas que você escreve com intenção, consistência e liberdade.

Referências:

KAHNEMAN, Daniel. Rápido e devagar: duas formas de pensar. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012. 

DALBAR-2023-QAIB.pdf

timing-the-market.pdf

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Este exemplo é exclusivamente para fins ilustrativos. Os casos individuais podem variar. Qualquer informação fornecida não é um resumo completo ou uma declaração de todos os dados disponíveis necessários para tomar uma decisão de investimento e não constitui uma recomendação.

Juliana Benvenuto

Coordenadora de Treinamento e Conteúdo da Avenue

Juliana Benvenuto é formada em Relações Internacionais, com pós-graduação em Finanças Corporativas pela Saint Paul e Extensão Universitária em Administração pela Universidade da Califórnia – Riverside. É coordenadora de Treinamento e Conteúdo na Avenue desde 2023

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