Por Martin Iglesias, responsável pela Recomendação de Investimentos do Itaú Unibanco
15 out 2025
De tempos em tempos, o mercado financeiro volta a se apaixonar por uma ideia capaz de transformar o mundo. No século XIX, foram as ferrovias. Depois vieram a eletricidade, o automóvel, o telefone. No fim do século XX, a internet. Agora, o fascínio atende por outro nome: inteligência artificial.
Empresas como NVIDIA, Microsoft, Amazon, Alphabet e Meta se tornaram o coração pulsante do mercado americano. As ações que lideram a revolução digital concentram uma fatia crescente do índice S&P 500, e o entusiasmo dos investidores parece confirmar um fato essencial: a economia dos Estados Unidos continua sendo o terreno mais fértil do planeta para a inovação contínua.
Mas o que explica essa capacidade única de se reinventar, década após década, crise após crise?
O ponto de partida está em Joseph Schumpeter, o economista austríaco que descreveu o capitalismo como um processo de “destruição criativa”. Para ele, o motor do progresso não é o equilíbrio, mas a ruptura. A economia cresce quando o novo destrói o velho: quando uma invenção substitui um modelo ultrapassado, quando uma ideia desorganiza o conforto das certezas.
A história americana é, em muitos sentidos, o retrato vivo dessa teoria. Desde as ferrovias que cruzaram o continente até as garagens que deram origem ao Vale do Silício, o país transformou o risco em virtude. A falência nunca foi uma vergonha, mas um aprendizado. E a competição, longe de ser vista como ameaça, tornou-se combustível para a criatividade.
Os Estados Unidos institucionalizaram o instinto schumpeteriano: criaram ambientes abertos à experimentação, mercados de capitais profundos e universidades conectadas ao setor produtivo, capazes de transformar conhecimento em inovação e inovação em negócio.
O Prêmio Nobel de Economia de 2025, concedido a Philippe Aghion, Peter Howitt e Joel Mokyr, deu forma teórica e empírica a esse processo. Os três economistas mostraram, de maneiras complementares, como o crescimento sustentado depende de um ciclo permanente de inovação.
Aghion e Howitt foram os responsáveis por formalizar o que chamamos de modelo de crescimento endógeno schumpeteriano. Eles demonstraram que o progresso não é um evento externo, não vem do acaso nem de choques tecnológicos isolados. Ele surge de dentro do sistema econômico, da competição constante entre empresas que buscam vantagem através da inovação.
Cada nova tecnologia eleva a produtividade, mas, ao mesmo tempo, torna obsoleta a anterior. O crescimento, portanto, é um processo de substituições sucessivas, um motor que nunca para.
A concorrência funciona como o vento que empurra a engrenagem: se for fraca, o sistema estagna; se for excessiva, desincentiva o investimento. O segredo está no equilíbrio, e é aí que políticas públicas, regulação e incentivos têm papel central.
Já Joel Mokyr, o terceiro laureado, trouxe uma dimensão mais humana e histórica à discussão. Para ele, o verdadeiro diferencial das economias inovadoras está na “cultura do conhecimento útil”, uma disposição social que valoriza a curiosidade, a liberdade intelectual e a tolerância ao erro.
Foi essa cultura que sustentou a Revolução Industrial na Europa e, mais tarde, impulsionou a ascensão tecnológica americana.
Nos Estados Unidos, o conhecimento nunca ficou restrito às academias: ele atravessou os laboratórios, ganhou as ruas e se converteu em produtos, serviços e patentes. É um país que recompensa quem pergunta “e se?”, e onde a falha é apenas um degrau no aprendizado.
Mokyr argumenta que o progresso só se mantém quando o ambiente social alimenta a curiosidade e é exatamente isso que o sistema americano faz: une liberdade científica, capital de risco e instituições que protegem a propriedade intelectual. A combinação gera um círculo virtuoso em que a inovação deixa de ser eventual e se torna estrutural.
Essa dinâmica explica por que as ações das gigantes de tecnologia refletem não apenas lucros presentes, mas expectativas futuras de inovação. O mercado americano precifica não só resultados, mas também a capacidade de reinventar o próprio modelo de negócios. Cada salto em produtividade, cada avanço em chips ou algoritmos, se traduz em valor, porque há uma crença coletiva de que a próxima grande revolução nascerá ali, dentro do ecossistema americano.
É a economia da destruição criativa funcionando em tempo real, sob o olhar de investidores que sabem que o risco é o preço do progresso.
O Nobel de 2025 não premiou apenas três economistas. Premiou uma ideia, a de que inovar é a forma mais poderosa de crescer. Schumpeter imaginou o motor, Aghion e Howitt mostraram como ele funciona, e Mokyr explicou por que ele liga (ou não) em cada país.
Os Estados Unidos continuam sendo o lugar onde esse motor gira mais rápido, não apenas por causa do capital, mas por causa da confiança no novo, da disposição em competir, e da liberdade de transformar conhecimento em valor econômico.
Enquanto essas condições permanecerem, o centro de gravidade da inovação global continuará em solo americano, e o mercado seguirá premiando quem, como Schumpeter previu, tem coragem de destruir para criar.
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