Por Sindhu Janakiram, Analista de Sustentabilidade da BNP Paribas Asset Management
16 out 2025
Investidores sustentáveis tradicionalmente evitam investimentos em defesa. Desenvolvimentos geopolíticos e a evolução de uma visão mais matizada sobre o que realmente importa para a sustentabilidade trouxeram ao setor o foco: critérios de sustentabilidade e investimento em defesa podem estar alinhados à medida que autonomia, resiliência e segurança emergem como temas-chave de investimento.
A paz, a estabilidade e um futuro previsível podem ser vistos como pré‑requisitos fundamentais para o desenvolvimento sustentável. De fato, o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 16 das Nações Unidas enfatiza a necessidade de “paz, justiça e instituições fortes”.
Acreditamos que empresas de defesa, com as devidas “proteções” (guardrails), podem contribuir significativamente para a resiliência social e econômica que permite o crescimento sustentável. Uma infraestrutura de defesa deficiente pode expor um país ou região a agressões externas e ao terrorismo, desestabilizando economias, deslocando populações e interrompendo ou revertendo o desenvolvimento.
Conforme mencionado, investir em empresas que fornecem ativos de defesa a países que respeitam o direito internacional pode ser visto como uma contribuição para a manutenção da paz e da estabilidade globais.
Acreditamos que investidores sustentáveis devem realizar uma triagem rigorosa de sustentabilidade para diferenciar entre empresas de defesa que apoiam políticas responsáveis e aquelas que não o fazem. Assim como esses investidores atuaram como catalisadores de mudanças positivas em áreas controversas, como mineração e diamantes de conflito, eles podem gerar um impacto positivo na indústria de defesa.
Como já escrevemos anteriormente, as ações do setor de defesa europeu podem oferecer aos investidores um potencial de valorização significativo. O conflito da Rússia com a Ucrânia e a incerteza quanto à disposição dos EUA em garantir a paz na Europa reacenderam a necessidade de as nações europeias reforçarem suas forças armadas após décadas de subinvestimento.
Esse cenário desencadeou uma enxurrada de planos de gastos, incluindo o compromisso da União Europeia (UE) de 800 bilhões de euros para aumentar os investimentos em defesa e rearmamento. Essa mobilização impulsionou ainda mais as ações de muitas empresas envolvidas no setor de defesa, que já vinham subindo em meio ao aumento das tensões geopolíticas e ao crescimento dos gastos militares globais.
Com mais de € 1,6 trilhão em investimentos planejados pela Europa nos próximos 10 anos, está se tornando cada vez mais evidente para muitos investidores que surge uma oportunidade de longo prazo. Os fluxos de ETFs refletem esta tendência. Em 2024 registaram‑se pouco mais de € 1,9 mil milhões em entradas nos ETFs de defesa. O ritmo acelerou em 2025, com já mais de € 8 mil milhões em investimentos líquidos até agora neste ano (veja no gráfico 1).

Este crescente apetite dos investidores deve reforçar o argumento de que ainda há potencial de alta adicional para as ações de defesa, após os ganhos expressivos registrados nos últimos anos.
A perspectiva de compromissos europeus de longo‑prazo com aumento de gastos em defesa, combinada com atrasos de pedidos já consideráveis e fluxos de caixa robustos, indica condições favoráveis para uma continuidade da valorização das ações. O fato de que muitas ações de defesa europeias parecem estar avaliadas de forma atraente em comparação com empresas semelhantes sediadas nos Estados Unidos constitui um ponto positivo adicional.
Por fim, historicamente muitos investidores europeus foram cautelosos ao investir em ações de defesa devido a preocupações de sustentabilidade, mas agora começaram a reavaliar sua postura, o que pode desbloquear uma demanda institucional e de investidores finais mais ampla.
Um efeito colateral positivo dos gastos em defesa é que, historicamente, eles têm impulsionado a inovação em tecnologias que passaram do campo de batalha para aplicações civis generalizadas: a internet, o GPS e materiais avançados como os compósitos de carbono têm suas raízes na pesquisa de defesa.
Não há razão para acreditar que isso deixará de acontecer. Muitas empresas do setor de defesa realizam investimentos substanciais em logística avançada, cibersegurança e inteligência artificial – todas áreas de alta relevância para a sociedade como um todo.
Investimos em empresas de defesa porque reconhecemos o papel importante que desempenham na preservação da soberania e da estabilidade. Ao fazer isso, investimos em conformidade com os princípios 1 e 2 do Pacto Global das Nações Unidas, que afirmam que as empresas devem respeitar a proteção dos direitos humanos e garantir que não sejam cúmplices de abusos desses direitos.
Adotamos nossa própria política de conduta empresarial responsável, que assegura que não investimos em companhias envolvidas em armamentos que causem danos indiscriminados e, portanto, indevidos aos civis. Esses armamentos incluem (mas não se limitam a) munições proibidas por tratados internacionais, como bombas de fragmentação (cluster bombs), minas antipessoais e armas químicas e biológicas.
Acreditamos que o engajamento com empresas de defesa para melhorar seu comportamento em termos de sustentabilidade é uma ferramenta valiosa para os investidores. Quando necessário, buscamos direcionar as empresas rumo a maior transparência, conduta ética e responsabilidade ambiental.
O campo do investimento sustentável está amadurecendo. Enquanto muitos investidores sustentáveis antes classificavam os setores simplesmente como compatíveis ou não com ASG (Ambiental, Social e Governança), agora estão considerando cada vez mais as nuances, o contexto e as interações que definem a elegibilidade de um investimento. Em nossa visão, as empresas de defesa podem desempenhar um papel essencial na construção de um mundo seguro e sustentável.
Ao mesmo tempo, as normas de relatórios e divulgações de sustentabilidade podem precisar ser ajustadas para monitorar, por exemplo, armas convencionais e controversas, bem como os clientes finais dos fabricantes de armamentos.
Acreditamos que os gestores de ativos sustentáveis podem adotar uma estrutura que enfatize as vantagens financeiras e não‑financeiras de investir em defesa, tendo a segurança como um bem social fundamental. É evidente que esses investimentos também devem continuar totalmente alinhados aos objetivos de sustentabilidade.
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